Logo do MTST
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • Youtube
  • Tik Tok

Racismo contra jogador Fernandinho é desconhecer a história, diz sociólogo

10 de julho de 2018

Jogador foi xingado nas redes sociais após derrota da seleção brasileira para a Bélgica na Copa do Mundo da Rússia

Fernandinho disputou todos os 5 jogos da seleção no Mundial, um como titular | Foto por Lucas Figueiredo/CBF

Copa do Mundo da Rússia. Escanteio para a Bélgica. O cronômetro marca 13 minutos do 1º tempo quando a bola resvala no ombro do volante Fernandinho e vai contra a rede do goleiro Alisson. Pronto. Esse foi o primeiro dos dois gols sofridos pelo Brasil na eliminação nas quartas de final do maior campeonato de futebol. E momento de que fez, mais uma vez, transparecer o racismo. Após a eliminação do Brasil, Fernandinho passou a ser atacado na internet com mensagens racistas.

O gol contra foi o que bastou, para o jogador que atua no Manchester City, ter sido alvo principal para o fracasso do time de Tite para alguns internautas. Nem bem havia acabado o jogo uma enxurrada de xingamentos racistas foram proferidas nas redes sociais do meio-campista e de sua família. Negro, Fernandinho foi chamado de “macaco” e “preto”. Seus familiares, como sua mãe e esposa também tiveram as redes sociais invadidas, como se Fernandinho tivesse cometido um crime ao ter a bola desviada em seu franzino corpo.

“Esse pessoal ainda vê o negro na questão da segurança como ameaça e na questão social como um ser inferior. Isso é uma cultura que é disseminada pela sociedade”

Fernando Luiz Rosa, de 33 anos, nasceu em Londrina, no Paraná, e antes de se destacar na Europa atuou no Atlético Paranaense. Para o sociólogo e pesquisador do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da PUC-SP Eduardo Viveiros de Freitas, a questão racial no Brasil é um ponto longe de ser absorvido, o que faz mais vítimas a cada dia. Fernandinho se tornou mais uma delas por conta do gol e a necessidade de se encontrar um culpado pelo fracasso do Brasil em busca do hexacampeonato mundial.

“O racismo é estrutural na sociedade brasileira e a gente não tem como mudar a curto prazo. A gente tem uma história que ainda não está resolvida de 350 anos de escravidão. Essa história faz com que a alma, o espírito, e a formação moral, principalmente nas classes médias, nas classes mais abastadas, veja o negro ainda como um escravo”, analisa o professor universitário aposentado. “Esse pessoal ainda vê o negro na questão da segurança como ameaça e na questão social como um ser inferior. E mesmo você tendo uma figura pública, como é um jogador de futebol com reconhecimento lá fora, as pessoas se comportam da mesma maneira. Isso é uma cultura que é disseminada pela sociedade”, continua.

Em um escanteio, a bola desviada pelo jogador belga bateu no volante brasileiro e foi contra o próprio gol | Divulgação/Fifa

Viveiros entende que o brasileiro desconhece o seu passado e, por isso, ataca tanto um ao outro. “Para enfrentar isso nós temos que enfrentar a nossa história. Nós temos que conhecê-la. A gente tem que desmistificar isso de que houve uma abolição da escravatura no sentido moral. As pessoas não se libertaram disso, elas ainda têm a visão do negro como inferior, destinado para atividades menores”, pontua.

“Trabalhar pela igualdade, pelo fim do preconceito, pela punição ao crime de racismo. Muitas vezes o sujeito é acusado de racimo e aí se muda para injúria racial para minimizar a pena. Não! Tem que ser duro com esse tipo de crime”

No Brasil, o crime de racismo é raramente imputado, sendo interposto ao seu autor o crime de injúria racial, de menor potencial ofensivo e com punição mais branda. “Caso o Fernandinho tivesse feito o gol da classificação não estaria se falando isso, mas também não falariam que ele é um brasileiro fundamental. É uma chaga, um buraco na formação moral e cultural brasileira que a gente vai ter que trabalhar. Trabalhar pela igualdade, pelo fim do preconceito, pela punição ao crime de racismo. Muitas vezes o sujeito é acusado de racimo e aí se muda para injúria racial para minimizar a pena. Não! Tem que ser duro com esse tipo de crime”, completa o sociólogo.

 

 

Por Paulo Eduardo Dias

Fonte: Ponte Jornalismo