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Noite de manifestações na França por conta do assassinato de um jovem pelas mãos da polícia

9 de julho de 2018

Em três bairros da cidade de Nantes aconteceu uma onda de manifestações que cruzou a madrugada desta quarta-feira, dia 4, depois da notícia que um jovem havia sido morto a queima-roupa pela polícia.

Nantes viveu uma noite inteira de protestos e revolta em três bairros populares da cidade, localizada no oeste francês logo após o assassinato do um jovem pelas mãos da polícia de choque.

Na noite da terça-feira, 3 de julho, uma blitz parou Aboubakar, um jovem de 22 anos que, segundo diferentes versões, tentou voltar com o carro e foi assassinado por tiro à queima-roupa por um dos policiais. Muitas testemunhas que vivem no bairro de Breil, disseram ter visto que Aboubakar não representava perigo e que a polícia disparou a sangue frio no jovem que morreu duas horas depois no hospital.

A mídia burguesa prontamente pintou Aboubakar como um bandido perigoso, que “poderia estar armado”, e até que um dos policiais havia ficado ferido, mas essas afirmações foram negadas pelas testemunhas e pela vizinhança local.

Uma noite de revoltas violentamente reprimidas

Não demorou para que a revolta tomasse conta das ruas e chegasse a dois bairros vizinhos, onde centenas de jovens protagonizaram uma noite de repúdio contra a postura criminosa da polícia frente aos moradores da periferia e das grandes cidades.

Dezenas de automóveis e parte do centro comercial do bairro de Breil foram queimados durante os protestos, que se estenderam também para os bairros vizinhos Malakoff e Dervallières.

Os manifestantes de Breil se enfrentaram com coquetéis molotov e barricadas com a brutal repressão policial que os atacou com gás lacrimogêneo e balas de borracha.

O ministro do interior, Gérard Collomb, se prontificou de tirar sua responsabilidade em relação ao acontecimento, declarando que “Corresponde à Justiça, e somente a ela, esclarecer as circunstâncias que levaram a morte de um motorista pelos policiais de uma blitz”, ainda assim, declarou que pretende reprimir qualquer manifestação dos jovens de bairros populares.

O ministro ainda garantiu para a prefeita de Nantes, Johanna Rolland, que utilizará “todos os meios necessários” até conseguir “acalmar a situação e evitar um novo acidente”, ou seja, vai garantir a militarização dos bairros para evitar um novo levante impulsionado pelo rechaço à repressão policial e a perseguição do estado por parte da juventude.

Não é um caso isolado

O assassinato de Aboubakar, um jovem morador da periferia de Nantes não é um caso isolado na França, basta relembrar de Zyed y Bouna, dois menores eletrocutados em 2005 enquanto fugiam de policiais; Lamine Dieng, imigrante chinês que morreu em 2007 arrastado por uma viatura, e tantos outros casos que nos fazem perceber que o cenário é muito parecido com o que ocorre diariamente no Brasil.

Aqui também são milhares os exemplos de vítimas da violência policial e da mentirosa guerra às drogas, que afeta em primeiro lugar os negros, basta lembrar de Marcos Vinícius, jovem de 14 anos que foi morto no Complexo da Maré, no RJ semana passada pelas mãos da polícia, de Maria Eduarda que morreu dentro da escola, de Marielle, vereadora do PSOL que morreu por se levantar contra a intervenção federal no RJ, ou de Cláudia, também arrastada pela polícia quando ia comprar pão para seus filhos.

Em todo o mundo são incontáveis os casos de perseguição e morte da juventude pobre, só em 2016, segundo o Ipen, houve número recorde de mortes violentas entre jovens no Brasil, sendo que 65% eram negros. A violência policial recai principalmente contra os jovens de bairros pobres, com postura arbitrária e racismo sistemático por parte da instituição policial.

Na França isso também não é novidade, sendo que a polícia sempre trata de tentar acobertar seu caráter racista, como no caso de Adama Traoré, um jovem negro que morreu em 19 de julho de 2016 vítima de asfixia, mas que segundo o diagnóstico policial havia sofrido uma parada cardíaca.

O mesmo cenário se repete no caso de Aboubakar, no qual os meios de comunicação estão lançando uma série de falsas versões sobre o suposto ferimento de um policial para tentar justificar o assassinato a sangue frio. Este mecanismo sinistro se repete todos os dias em cada um dos assassinatos da juventude negra e periférica nas mãos da polícia, que é uma instituição feita para servir aos interesses dos capitalistas enquanto mata e encarcera a classe trabalhadora.

 

 

Fonte: Esquerda Diário