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Ataques de apoiadores de Bolsonaro atingem mais de 150 pessoas e deixam 8 mortos

2 de novembro de 2018

De grupo supostamente armado em universidade, passando por anúncio de caçada a “negros e viados” até perseguição a jornalistas: o que eleitores de Bolsonaro têm feito desde o primeiro turno em todo o Brasil

Alunos da FEA-USP com alegorias e mensagens de ódio dentro da universidade nesta segunda-feira | Foto: reprodução

Logo após o anúncio da vitória do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), manifestações pró e contra tomaram as ruas do país. Nessa mesma velocidade tem sido a crescente onda de relatos de violência física, verbal, intimidação e ameaças a quem se opõe ao presidente eleito. Até mesmo jornalistas, no exercício da profissão, têm sido alvo de perseguição.

Na noite do domingo (28/10), durante uma festa de comemoração à vitória de Bolsonaro, um grupo de jovens foi violentamente reprimido pela Polícia Militar que acompanhava o ato na avenida Paulista, região central de São Paulo. Um detalhe: os jovens estavam reunidos apenas para aproveitar a noite, sem qualquer motivação política.

Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), um grupo chegado armado nesta segunda-feira (29/10), um dia após o segundo turno. De acordo com a Revista Fórum, os estudantes estavam vestidos com roupa militar e camisetas em que se lia Trump, fotografaram salas de aula, fizeram uma espécie de performance, anunciando a chegada da “nova era” e fazendo ameaças: “As petistas safadas vão ter de tomar cuidado”. A universidade apura quem são os estudantes, se são mesmo uspianos e sobre a veracidade da informação das armas, segundo o UOL.

Em nota, assinada pelo diretor da FEA,  Fábio Frezatti,  a faculdade repudiou o ocorrido e destacou que o ambiente universitário deve ser de diálogo aberto e debate respeitoso. “O período eleitoral foi tenso e as expectativas oscilaram com muita radicalização. Uma vez terminado o processo eleitoral, imagina-se que as acomodações ocorram e os ânimos sejam acalmados. Afinal a vida segue. Em algumas situações algo que pode ser pensado como ‘brincadeira’ pode ser o estopim para aumento da agressividade e mesmo ameaças. Isso é inaceitável pois queremos um ambiente em que a comunidade possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização. Além de todos os esforços para manter integridade e paz no ambiente da FEA, ações que intimidem, ofendam e causem reações e danos serão rigorosamente coibidas e punidas”, diz trecho da nota.

Eleitores de Jair Bolsonaro comemoram a vitória do candidato em SP | Foto por Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

Um outro caso, ocorrido ainda no dia da votação, foi o do estudante de Direito Pedro Bellintani Baleotti, 25 anos, que fez um vídeo que viralizou no WhatsApp em que anuncia estar indo votar em Bolsonaro “ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. No fim do vídeo, ele filma duas pessoas negras em uma moto enquanto fala: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”. A gravação tem pouco mais de 20 segundos e causou a demissão do rapaz do escritório onde trabalhava. Aluno da Universidade Mackenzie, coletivos de estudantes, tanto do curso de Direito quanto de outros, exigiram nesta terça-feira (30/10) logo de manhã uma resposta mais dura da instituição. Abaixo a publicação de vídeos e fotos de uma estudante que participou do protesto.

m desses grupos, o Coletivo Negro Afromack, chegou a postar uma nota em que chamava os alunos para o protesto: “Divergências políticas devem ser sempre respeitadas, mas JAMAIS toleraremos que um aluno clame por MORTE A ‘NEGRAIADA. Nós, discentes, repudiamos qualquer tipo de violência e discursos de ódio e exigimos que a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Faculdade de Direito tomem uma medida à altura do ocorrido”. O Mackenzie abriu uma sindicância para apurar a atitude de Pedro e o suspendeu preventivamente.

Profissionais de imprensa também têm encontrado dificuldades de trabalhar. De acordo com a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), pelo menos 7 jornalistas foram intimidados ou agredidos fisicamente desde o anúncio dos resultados, entre a noite de domingo (28/10) e a segunda-feira (29/10). Todas as agressões partiram de apoiadores de Bolsonaro.

Desde o dia 1º de outubro, o Mapa da Violência, iniciativa criada por jornalistas do Ópera Mundi e feito de maneira colaborativa também por outros profissionais de imprensa, já catalogou mais de 150 casos de ataques pelo Brasil – há casos de mortes, muitos deles noticiados pela Ponte Jornalismo, como o assassinato da travesti Priscila, ocorrido no centro de São Paulo, até ameaças diversas. No levantamento, também aponta que em 90% dos casos os agressores são homens e que em 39 oportunidades agiram sozinhos e em 21 em bando. Desde o início do outubro, antes mesmo do segundo turno, até agora pelo menos 8 pessoas foram assassinadas. O último caso foi o de Charlione Lessa de Albuquerque, jovem negro de 23 anos, morto no fim de semana durante carreata pró-Haddad no Ceará.

Há relatos de ataques verbais também a quem se opõe ou mesmo representa os grupos minorizados, alvo de críticas do presidente eleito durante a campanha e até mesmo depois do segundo turno. O padre Julio Lancellotti, que trabalha há décadas na Pastoral do Povo de Rua, relatou na conta dele do Instagram que PMs, no início desta semana, passaram perto de um grupo de pessoas em situação de rua, em São Paulo, e disseram: “Logo que o Bolsonaro assumir, vocês vão sumir”.

 

 

Por Maria Teresa Cruz

Fonte: Ponte Jornalismo