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Luta de classes não deve ser luta de ódio, diz ex-presidente uruguaio Pepe Mujica

12 de maio de 2017
Fonte: Opera Mundi
Ex-presidente uruguaio pediu aos trabalhadores brasileiros que se unam aos da América Latina em uma ação conjunta: “antes de aprender inglês aprendam espanhol”

Nesta semana, em visita ao Brasil, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica participou da abertura da etapa paulista do 6° do Congresso do PT e, também, da II Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Na sexta-feira (05/05), ao lado do ex-presidente Lula, ele pediu aos trabalhadores brasileiros que se unam aos trabalhadores da América Latina em uma ação conjunta. E aconselhou: “antes de aprender inglês, brasileiros, aprendam espanhol”.

Destacando a importância do Brasil no destino da América Latina, Pepe Mujica salientou que “a responsabilidade do país é continental”, mas que sozinho o Brasil não poderá cumpri-la, assim como os demais países latino-americanos também não poderão sem o Brasil.

Apontando o conhecimento enquanto recurso inesgotável, o ex-presidente do Uruguai mencionou a necessidade de unirmos a inteligência e a esperança de construirmos um mundo melhor e sem egoísmo. Ele também alertou os brasileiros sobre os perigos do ódio: “a luta de classes não deve ser uma luta de ódio”.

“Cuidado, companheiros lutadores, há uma armadilha de ódio plantada pela direita mais reacionária”, afirmou, ao destacar que a direita fascista quer a “confrontação” para aplacar os direitos acumulados pela luta de classes. “Nossa luta não é somente a luta pelos oprimidos, mas também a luta por um mundo que não tenha opressores”, reiterou.

Força coletiva

Salientando a importância dos partidos políticos e da força coletiva, Pepe Mujica recomendou à plateia que lotou o Sindicato dos Bancários o Congresso do PT: “cuidem do partido. Se querem ter um partido grande, aprendam a tolerar as diferenças”.

Ele também ironizou a quantidade de partidos políticos no Brasil (35 registrados oficialmente) – “não pode haver 30 projetos de país” – e ponderou sobre as alianças partidárias: “política de alianças, mas sabendo até onde chega esta aliança”.

Em sua avaliação, agora, a agenda é “ganhar as eleições”; tendo no horizonte, de longo prazo, a luta “pela esperança e pelo direito à vida para todos e com todos”. “Lutamos pelo poder? Não. Lutamos pelo progresso da civilização humana, como lutaram muitos antes nós”, complementou.

Pepe Mujica também elencou alguns cenários e desafios das novas gerações, por exemplo, um cenário de robotização do trabalho em massa e a necessidade de se instituir uma renda básica de caráter universal.

Ele também mencionou os riscos à democracia trazidos pela revolução digital. Lembrando que as novas tecnológicas já permitem “resumir com métodos matemáticos os perfis psicológicos que existem em uma sociedade”, Mujica alertou, sobre a necessidade de uma campanha sistemática de instrução da população.

O risco é vivermos um nível de dominação e de controle jamais visto na história da humanidade. Uma nova forma de ditadura, “capaz de dominar suas decisões e na qual você entrar sem se dar conta”.

Desafios 

No sábado (06/05), o ex-presidente do Uruguai também participou de uma entrevistacoletiva à imprensa independente, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), minutos antes de sua participação na II Feira da Reforma Agrária do MST, no Parque da Água Branca, na capital paulista.

Trazendo um panorama dos desafios da humanidade, Pepe Mujica disse que, tecnicamente, “pela acumulação de capital e conhecimentos”, podemos “varrer as misérias fundamentais que existem na terra”. O homem contemporâneo pode “inventar rios, construir mares no meio deserto”, porque possuiu “força suficiente e capacidade para reverter muitos desastres que fez”.

No entanto, essa mesma civilização, capaz de inventar as mais incríveis tecnologias, domina o homem. “Nós criamos uma cultura do mercado com uma força impressionante de concentração de riqueza”, salientou, ao lembrar que, “há mais de 30 anos, os homens da ciência nos disseram o que tínhamos de fazer, mas, por incompetência política, não fizemos”.

O resultado é que “estamos contaminando todo o planeta” e vivendo em um mundo que padece pela “pressão do capital financeiro, das multinacionais e da explosão tecnológica”. Muito mais importante do que a indústria do petróleo ou a indústria de automóveis, é conservar o planeta: “faltou luta política para intervir nos interesses que se interpõem. A crise ecológica é consequência da crise política”.

Cada vez mais, alertou Mujica, o mundo vem se organizando em “fenomenais comunidades continentais”. Daí a importância da união dos países no continente latino-americano.

Questionado sobre a questão da terra, ele destacou que “a concentração de terra é concentração de poder político” e que “sem luta social não há mudança”. Frisou, ainda, que a luta pela terra engloba a luta pelo conhecimento e pela cultura da terra. “A terra pertence à humanidade” deve ser “propriedade de uso e de trânsito”.

“Não pode ser um calvário de pobreza, de tristeza e de melancolia. A terra é um instrumento de libertação, instrumento daquilo que se faz com paixão e com poesia e não somente um negócio”, complementou.

(*) Publicado originalmente em Carta Maior