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Governo Temer, com sua marcha à ré, nos faz sentir nos anos 80

26 de abril de 2017

Fonte: Blog do Sakamoto

A Folha de S. Paulo antecipou o resultado de uma licitação para conta de publicidade do Banco do Brasil, quatro dias antes da abertura oficial dos envelopes que trariam os vencedores, o que ocorreu nesta segunda (24). Ele foi publicado pelo jornal de forma cifrada em seus classificados, no último domingo, e registrado em cartório. A concorrência é a maior já realizada sob Michel Temer – um contrato em que três agências dividirão R$ 500 milhões por ano.

Em maio de 1987, o jornalista Jânio de Freitas antecipou da mesma forma os vencedores da concorrência para a construção da ferrovia Norte-Sul, sob o governo Sarney. Ele teve acesso aos ganhadores antes mesmo dos envelopes com as propostas serem abertos e também publicou a informação em mensagem cifrada no jornal.

Nas ruas, muitas pessoas ressuscitam o grito de ”Diretas Já”, como em 1984, exigindo eleições para a Presidência da República a fim de dar legitimidade a um governo que nos tire do atoleiro social, político e econômico. No Congresso Nacional, as pautas aprovadas e em discussão parecem querer que voltemos a uma situação anterior às conquistas da Constituição Federal de 1988. Sim, Brasília escancara o cheiro retrô e o gosto nostálgico. Leitores e leitoras, voltamos aos anos 80.

Gostaria que Temer fosse à TV para fazer um pronunciamento à nação avisando que mudanças serão necessárias para adaptar nosso país àquela gloriosa década. Uma recauchutada nos guarda-roupas, como ressuscitar blazers com ombreiras, comprar algumas jaquetas de couros largas e jeans de cintura alta, tirar as polainas de cores brilhantes da naftalina. Procurar LPs do Richie, com Menina Veneno, e do The Police, com Every Breath You Take. Tirar Fafá de Belém (ou Vanusa) cantando o Hino Nacional e recolocar Kátia, com Não Está Sendo Fácil. Deixar os os mullets crescerem. Abandonar o PlayStation e adotar um Genius. Trazer de volta a gordura trans.

Vamos aos fatos: no final do ano passado, a base de apoio de Michel Temer na Câmara dos Deputados conseguiu barrar a proposta de uma emenda constitucional que permitiria uma nova eleição direta para presidente caso o cargo fique vago até junho de 2018. Em 25 de abril de 1984, a base de apoio do governo João Figueiredo na Câmara dos Deputados conseguiu barrar a proposta de emenda constitucional que permitiria uma nova eleição direta para presidente.

Michel Temer diz que se os pacotes de reformas não forem aprovados do jeito deles, o Brasil quebra. O ”mercado” diz que se isso não for aprovado do jeito que o governo propôs, o Brasil quebra. Todo dia tem algum analista na TV dizendo que isso não for aprovado do jeito que o ”mercado” exige, o Brasil quebra. E, como sabemos, ninguém em sã consciência sai em defesa de  nós, jornalistas, ou de economistas.

Parece até a quadrilha de Carlos Drummond de Andrade – morto, coincidentemente ou não, há 30 anos. ”João amava Teresa que amava Raimundo / que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili / que não amava ninguém”. A diferença é que, para Drummond, ”João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”. Querem que nós sejamos J.Pinto Fernandes, que só vai entrar na história para pagar o pato. Amarelo, de preferência.

Ao invés de promover um grande debate nacional sobre quais devem ser as prioridade do Estado e como devemos resolver os problemas estruturais (o que seria de se esperar de um presidente-tampão com um plano de governo que não foi – e nunca seria – eleito democraticamente), Temer prefere reduzir o tamanho do Estado no curto espaço de tempo que tem. Acha que vai entrar na história como o reformador.

Sim, entrará. Como uma espécie de Juscelino Kubitschek às avessas, engatando a marcha à ré de 30 anos em três.

Depois de tudo o que aconteceu com a queda de Dilma e o inferno do PT, Temer deveria chamar a sociedade para uma longa discussão sobre nossa democracia representativa e propor uma Reforma Política decente – não uma para salvar o pescoço daqueles que merecem ser punidos por má gestão da coisa pública. Ao mesmo tempo, buscar construir um novo pacto social, curando as feridas e abrindo pontes.

Preferiu usar o governo para conseguir de parte do empresariado apoio a fim de que seu grupo político não seja tragado. Em troca, reduz o Estado de bem-estar social, mantendo os lucros do andar de cima protegidos.

Está programada para esta semana votação da Reforma Trabalhista na Câmara dos Deputados, reduzindo direitos garantidos ao longo de décadas de lutas e transformando a carteira assinada em confete. E, em breve, também será votada a Reforma da Previdência – que, do jeito em que está, impedirá a aposentadoria dos mais pobres, empurrando-os todos para a fila da assistência social. Os trabalhadores rurais vão encarar novamente a penúria na velhice que havia antes da Constituição.

A única coisa que não tem cara de década de Brasil dos anos 80, mas da Alemanha da Segunda Guerra Mundial é a blitzkrieg, ou ”guerra-relâmpago”, que utiliza ataques rápidos, brutais e de surpresa em vários fronts para evitar que o inimigo tenha tempo de se reorganizar, que o governo vem adotando em suas reformas. De forma atabalhoada, é claro, sem a mesma competência e, claramente, longe de ter a sua aptidão para comunicação de Joseph Goebbels e Leni Riefenstahl. E, neste caso, o inimigo é o povaréu e todos que decidirem se insurgir.

Tudo isso provocou um chamamento a uma greve geral para esta sexta (28). As pautas são diferentes da grande greve geral de março de 1989, mas o clima de descontentamento geral com a economia, a política e o futuro do país unem esses dois momentos da história.

O tamanho e o impacto dela vão mostrar se o povo brasileiro sente-se confortável na década de 80 ou decidiu que não aceita quem o empurre para o passado prometendo o futuro.