Logo do MTST
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • Youtube
  • Tik Tok

Ocupação dos sem teto na Avenida Paulista termina com vitória após 22 dias de resistência

9 de março de 2017

Fonte: Mídia Ninja

Após 22 dias de ocupação na Av. Paulista, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto força governo Temer a retomar contratações de moradias populares do programa Minha Casa Minha Vida

Vitória! Esse é o sentimento dos milhares de militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que conseguiram ontem (9), após 22 dias de ocupação no escritório da Presidência da República, na Av. Paulista, em São Paulo, a retomada de 35 mil contratações do programa Minha Casa Minha Vida Entidades, e assim a promessa da construção de casas para famílias com renda de até R$ 1.800,00.

A unidade necessária para a resistência durante os 22 dias de ocupação do MTST na Av. Paulista, mostra que, mais que um grupo acampado em meio ao maior centro econômico da América Latina – ainda que essa seja uma tremenda façanha – trata-se de um dos mais pujantes Movimentos Sociais da América Latina, que impôs a sua força e poder de mobilização contra o desmonte das políticas habitacionais, realizado pelo Ministério das Cidades, de Bruno Araújo (PSDB) e Michel Temer (PMDB).

Ao fazer isso, e conseguir que o governo volte atrás nas mudanças estruturais que impôs ao programa Minha Casa Minha Vida, maior meio de acesso à moradia popular no Brasil, o MTST mostra que a esquerda brasileira não está no limbo que alguns tentam colocá-la. Ao contrário: está mais forte do que nunca na resistência, ainda que com as mãos amarradas pelas vias institucionais.

Aliás, a unidade que constrói em sua base, também consolidou nos seus eixos, articulando junto à outros Movimentos Sociais as mobilizações. Foi assim que a OcupaPaulista, como ficou conhecida, conseguiu atrair centenas de artistas, intelectuais e ativistas, em programações diárias durante todo o dia.

A união entre a cultura e a luta por moradia mostrou-se a principal arma de atração popular, fazendo com que a os constantes ataques e tentativas de deslegitimar o movimento fossem inúteis. A cada dia, mais e mais pessoas se encantavam com o que viam no acampamento, situado logo na esquina com a Rua Augusta, uma das mais badaladas da cidade, e bem em frente ao Escritório da Presidência da República.

Mais que isso, a cada dia mais e mais artistas queriam se apresentar no local, apoiar o Movimento usando suas camisas nos shows, colocar a sua cara para falar sobre a importância daquela luta popular.

A OcupaPaulista também serviu para mostrar que a velha “esquerda rachada” está na contramão do futuro que o povo precisa. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Levante Popular da Juventude, a Frente de Luta Por Moradia, e muitos outros estiveram presentes no acampamento, deram aulas públicas, dialogaram sobre como suas bases podem estar mais próximas, e deram um sinal verde para um futuro promissor de uma esquerda mais fortificada para enfrentar o desmonte promovido por Temer.
Outra fronteira importante no imaginário popular que tornou-se referência nessa luta é a religião. Amplamente dominada por um simbólico poder reacionário, a OcupaPaulista mostrou que há resistência também nesse campo, e ela não é pequena. Milhares se reuniram para rezar juntos em um carnaval diferente.
Outras centenas se calaram e ouviram a mensagem sábia e carismática do Pastor Ariovaldo Ramos, um expoente na resistência democrática dentro da Igreja Evangélica. Há muita luta pela frente, mas um passo importante foi dado para que nossa visão seja mais ampla na religiosidade, e possamos nos despir dos preconceitos para fazer parte dessa luta.

As questões nacionais, para além da moradia, foram amplamente discutidas. Reforma da Previdência e trabalhista se tornaram pautas de diversos professores e intelectuais, como Laura Cardoso e Souto Maior. Suas falas revelam as mentiras das propostas do governo Temer, e esclareceram aqueles que ainda tem dúvidas do quão danoso será a efetivação de leis que não passaram pelo crivo popular.

Ao enxergar todos esses elementos que comporam a OcupaPaulista, a vitória do MTST ao final de 22 dias de ocupação, na verdade, foi vitória durante todos os dias de ocupação. Vitória do diálogo, das articulações, das bases, das unidades, da resistência e, essencialmente, da sociedade que pode enxergar caminhos possíveis contra o desmonte promovido pelo governo Temer.

Um movimento feito por mulheres

O histórico 8 de março, dia Internacional de Luta das Mulheres, que levou milhões de pessoas às ruas de todo o mundo, também reforçou a importância da mulheres do MTST na conquista da Avenida Paulista.

O movimento é composto majoritariamente pelas mulheres, que assumem funções de coordenação nas ocupações e manifestações. Na OcupaPaulista tiveram papel central na organização da alimentação, segurança, estrutura e no cuidado com todos os acampados.

O ensaio Mulheres da Lona Preta foi realizado durante a ocupação como forma de reconhecimento às guerreiras que conseguiram levar esse Movimento à vitória.

A unidade do movimento tem origem na periferia

No Capão Redondo, um largo gramado, vezes um mar de lama, marca as ruelas entre um barraco e outro dos moradores do acampamento Povo Sem Medo. Nesse local, em que quase 2 mil pessoas moram, o conforto é restrito, mas a comunidade é forte. Assim como o é em Embu Das Artes, no acampamento também chamado Povo Sem Medo. Ainda recentes, as comunidades são fruto de ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que em pouco tempo atraíram centenas de famílias pobres, favelados que almejam uma casa própria.

Como nasceram essas e se fortificaram, hoje as veteranas João Cândido, em Taboão da Serra, e Palestina, no Jardim Ângela, veem de perto a casa que, alguns estão há mais de dez anos na luta para ver de pé. São homens e mulheres, trabalhadores incansáveis nas mais diversas funções, retratos de uma sociedade desigual que possui um déficit habitacional na casa de 84% entre famílias de R$ 1.800 de renda mensal, a chamada faixa 1 do Minha Casa Minha Vida.

Geralmente relegadas ao status de “ignorantes” e “peões”, esses trabalhadores foram urdidos sob o nome de “Povo Sem Medo”. Ao se reconhecerem assim, crescem. O sentimento de pertencimento a uma comunidade forte que pode lutar contra a desigualdade os empoderam da força que têm. Bastava que descobrissem. Juntos, o fazem. E assim como Zumbi dos Palmares, Lampião e Marighella, são resistências ante os governos defensores dos privilégios das elites. Sua vantagem é que são milhares, reunidos em torno de um mesmo ideal.

Créditos da Imagem: Mídia Ninja